Mais de
230 infrações foram contabilizadas no município
Apesar da escravidão ter sido abolida no Brasil no dia 13 de maio
de 1888, homens e mulheres continuam tendo seus direitos humanos e trabalhistas
negados em situações análogas à escravidão. O recente resgate de quase 200
trabalhadores em vinícolas gaúchas escancarou ao País que a criminosa cultura
escravocrata ainda é uma realidade, inclusive no Pará. Entre os 15 municípios
que mais notificaram infrações ligadas ao trabalho escravo desde 1995, quando
foi criado o Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM), 7 são do Estado,
apontam dados do Painel de Informações e Estatísticas da Inspeção do Trabalho
no Brasil.
Historicamente,
as regiões sul e sudeste paraense são onde mais o trabalho escravo está
presente. De 1995 a 2022, os municípios que mais registraram infrações foram:
São Félix do Xingu (1.170), Marabá (575), Novo Repartimento (573), Itupiranga
(492), Rondon do Pará (473), Pacajá (441), Goianésia do Pará (401), Paragominas
(330), Dom Eliseu (323), Santana do Araguaia (298), Ourilândia do Norte (266), Uruará
(238), Abel Figueiredo (232) e Tucuruí (230). No total, o Estado já registrou
13.463 trabalhadores resgatados.
Para o
procurador do Ministério Público do Trabalho do Pará e Amapá (MPT-PA/AP) Allan
de Miranda Bruno, da Coordenadoria Regional de Combate ao Trabalho Escravo e
Tráfico de Pessoas, o trabalho escravo contemporâneo é resultado de um país
desigual. Portanto, para se combater a escravidão, é necessário também combater
as desigualdades sociais.
“As
oportunidades que começam desde a infância até a vida adulta têm os seus
desafios sociais, principalmente dentro dos bolsões de miséria, aonde aquele
cidadão ou aquela criança já tem nos seus primeiros anos sonegados tanto o
direito à uma nutrição saudável, quanto à educação, segurança pública, esporte;
quando na adolescência, tem negado o direito à educação com mínima qualidade
para que sua empregabilidade seja capaz de inseri-lo nos postos de trabalhos
dignos”, explica o procurador.
Allan
Bruno destaca que quem tem seus direitos básicos negados desde a infância é
mais vulnerável à escravidão. “Esses bolsões de misérias resultam em um
exército de trabalhadores que não tiveram oportunidade de se qualificar e
estudar para ter sua empregabilidade, e por isso, acabam sendo submetidos ao
aliciamento desses postos de trabalho indignos, onde sua integridade física, os
direitos mínimos e as condições mínimas de segurança são totalmente
desprezadas”.
Operações
Em 2018,
as operações do MPT resgataram 159 trabalhadores no Pará. Em 2019, 66; em 2020,
76; e em 2021, 122. Ano passado, o MPT participou de 17 operações no Estado,
sendo 11 forças-tarefa do grupo móvel regional e 6 do grupo móvel nacional, e
as ações resultaram em 92 pessoas resgatadas.