Especialistas acreditam que isso aconteça porque os dados do IBGE estão desatualizados, já que o último censo foi feito em 2010
Pelo
menos oito dos 144 municípios paraenses têm mais eleitores do que
habitantes, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sendo que três deles aparecem entre as 10 cidades brasileiras com a maior
diferença entre a população e o eleitorado.
Em
primeiro lugar está Canaã dos Carajás,
com discrepância de 9.961, já que há uma estimativa de que 39.103 pessoas morem
no município, mas o TSE tem cadastrados 49.064 eleitores. As outras duas
cidades que aparecem no ranking nacional são Jacareacanga, em
segundo lugar, que tem 13.285 pessoas aptas a votar e 6.952 habitantes
estimados até 2021, uma diferença de 6.333; e Mojuí dos Campos na
sexta posição, somando 20.289 eleitores contra 16.282 moradores -
discrepância de 4.007.
Também
aparecem entre os 10: Cumaru (PE); Severiano Melo (RN); Maetinga (BA); Japurá
(AM); Ribeirão do Largo (BA); Serra Preta (BA); e Abadia de Goiás (GO). Em todo
o país, o número de cidades com mais eleitores do que a população estimada
chegou a 569 neste ano.
O
fenômeno é considerado normal pelos especialistas. Segundo o doutor em ciência política Lucas Okado, que é também
professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade
Federal do Pará (UFPA), é preciso considerar que os dados de 2021 do IBGE são
apenas uma estimativa e podem não representar a realidade, já que o último
censo foi realizado em 2010. Ele lembra que, naquela época, 26.716 pessoas
moravam em Canaã dos Carajás, cidade que possuía 23.593 eleitores em 2012. Já
em Jacareacanga, eram 14.103 habitantes em 2010 e 8.206 eleitores dois anos
depois. Mojuí dos Campos foi emancipada em 2013, então não há dados do censo.
“Essa
comparação é ruim porque tem dois problemas. Primeiro, os dados populacionais
são uma projeção do IBGE. Eles não vão captar movimentos migratórios bruscos,
como os causados por empreendimentos de grande porte que aumentam a população
de forma repentina. Outro ponto é que as bases do TSE e do IBGE não conversam.
Então, se eu mudei de cidade e não transferi meu domicílio eleitoral, eu
continuo na minha cidade de origem para o TSE e passo para a cidade nova no
IBGE. Era para termos um censo em 2020 e ele não foi feito até agora. Assim,
essas comparações não são precisas, porque são feitas com base em uma projeção
estatística da população. Isso, por si só, já dificulta uma comparação”,
analisa.
Ouvido
pelo G1, o cientista político e professor da UFPA Carlos Augusto Souza explica
que as duas cidades paraenses no topo do ranking, Canaã e Jacareacanga, estão
em regiões de fronteira agrícola, onde houve um avanço de atividades ligadas à
agropecuária. “Os fatores que explicam a manutenção de taxas altas de eleitores
não correspondentes com a população são migrantes que não fixam residência na
cidade, ou atividade atrativa de mão de obra temporária. A pecuária é uma
atividade desse tipo”, afirma o especialista ao portal.
A
reportagem também traz uma nota do IBGE, em que ressalta que o último censo
ocorreu em 2010 e que “espera divulgar as populações de todos os municípios do
país para 2022 até o final do ano, a partir dos resultados do censo”. O
instituto também citou como explicação para a diferença o fato de que
“moradores que se mudam para outras cidades comumente demoram a fazer a
transferência de seus domicílios eleitorais. Alguns não chegam nunca a
fazê-lo”.
Municípios paraenses com discrepância
entre eleitorado e população
1º: Canaã dos Carajás
Habitantes: 39.103
Eleitores: 49.064
Diferença: 9.961
2º: Jacareacanga
Habitantes: 6.952
Eleitores: 13.285
Diferença: 6.333
6º: Mojuí dos Campos
Habitantes: 16.282
Eleitores: 20.289
Diferença: 4.007
Diferença em outros municípios
paraenses:
Pau D’Arco: 2.415Senador José Porfírio:
1.380
Peixe Boi: 846
Brasil Novo: 300
Primavera: 83
Com
informações de O Liberal (TSE e IBGE)