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| Foto: Ascom / PCEPA |
Relatórios recentes da
Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi)
registram 68 ameaças de morte, oito tentativas de assassinato e três homicídios
contra ativistas em 2024, além de 35 assassinatos de indígenas entre 2020 e
2024. Esses números, que incluem invasões territoriais, desmatamento ilegal e
racismo étnico, expõem a fragilidade da proteção a indígenas, quilombolas,
ribeirinhos e agricultores que guardam a floresta contra interesses econômicos
vorazes.
A violência não é um
fenômeno isolado, mas entrelaçada a disputas fundiárias e crimes ambientais. De
acordo com a CPT, 94% das violações registradas em 2023-2024 no estado visam
defensores ambientais, com seis assassinatos em dois anos. O Instituto Igarapé
aponta que oito em cada dez mulheres ambientalistas na Amazônia Legal já
sofreram algum tipo de agressão, incluindo violência moral (27%), física
(19,7%) e psicológica (10,8%), frequentemente perpetrada por desconhecidos,
parentes ou agentes públicos. No contexto global, o Brasil ocupa o segundo
lugar no ranking de letalidade para ambientalistas em 2022, com 34 mortes,
segundo a Global Witness, e mais de 1.910 casos na última década.
Casos Recentes que
Ilustram o Alarme
O mês de novembro de 2025
trouxe um novo capítulo de tragédia. Em 4 de novembro, as extrativistas Antônia
Ferreira dos Santos e Marly Viana Barroso, do Movimento Interestadual de
Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), foram encontradas mortas em uma área de
babaçu em Novo Repartimento, no sudeste paraense. As vítimas, que coletavam
frutos para sustento familiar e preservação da floresta, sofreram cortes
profundos no pescoço, com indícios de violência sexual em um dos casos. O crime
ocorreu em propriedade privada, onde denúncias apontam derrubada intencional de
palmeiras por fazendeiros para plantio de capim – um conflito clássico pelo
"Babaçu Livre", que garante acesso comunitário aos babaçuais.
O MIQCB, que representa
milhares de mulheres extrativistas, cobra investigação urgente do governo
estadual, Ministério Público e Polícia Federal. "Esse crime atinge toda a
luta das quebradeiras: uma violência contra o corpo e a história de quem
resiste", afirmou o movimento em nota. O deputado federal Paulo Teixeira
(PT-SP), ministro do Desenvolvimento Agrário, manifestou solidariedade e exigiu
justiça, destacando o papel das vítimas na preservação da floresta.
Outro incidente chocante
ocorreu em 12 de novembro, durante a COP30 em Belém. Manifestantes indígenas e
ribeirinhos invadiram a Green Zone, área de eventos paralelos, em um ato de
protesto contra a exclusão de povos tradicionais das discussões climáticas.
Confrontos com a guarda da ONU resultaram em repressão, com ativistas
escorraçados – um episódio que viralizou nas redes, simbolizando a ironia de um
fórum global sobre clima marcado por violência local.
Raízes da Violência: Desmatamento e Impunidade
Estudos como o
"Cartografias das Violências na Região Amazônica", do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, ligam a letalidade ao crime organizado: 39
comunidades quilombolas no Pará denunciam presença de facções envolvidas em
garimpo ilegal e contrabando de madeira. O desmatamento em larga escala,
associado a 70% dos ataques globais contra ambientalistas em 2020 (Global
Witness), gera "efeitos tardios" de conflito, com invasões
prolongadas culminando em assassinatos.
Casos emblemáticos
reforçam o ciclo de impunidade. Em 2022, a família de ambientalistas José Gomes
(Zé do Lago), Márcia Nunes Lisboa e Joene Lisboa foi executada em São Félix do
Xingu por pistoleiros, após anos de defesa de quelônios no rio Xingu. A
investigação, sob a Divisão de Homicídios de Marabá, segue sem condenações,
apesar de linhas que apontam conflitos fundiários de décadas. A Anistia
Internacional e a ONU cobraram apurações, mas o Brasil registra taxa de
condenação abaixo de 2% em crimes ambientais, segundo a Global Witness.
Mulheres como Claudelice
Santos, que perdeu irmão e cunhada em 2012 em Nova Ipixuna (PA), enfrentam
ameaças constantes de madeireiros e garimpeiros. "A violência se
multiplica dentro de casa e fora", relata o Igarapé. Em 2025, Miriam
Tembé, presidente da Associação Indígena Tembé do Vale do Acará, denunciou
falta de resposta federal a pedidos de proteção contra invasões.
Medidas e Desafios: Da
Proteção à Hipocrisia
O Programa de Proteção a
Defensores de Direitos Humanos (PPDDH) inclui o maior número de ambientalistas
no país, mas críticas apontam seu uso para vigilância política, como na
ocupação da Secretaria de Educação em 2025, onde indígenas e parlamentares
foram monitorados ilegalmente.
Organizações como Justiça
Global e Terra de Direitos repudiam o governo estadual por isso.
Internacionalmente, o
príncipe William anunciou, em 5 de novembro de 2025, um fundo para combater a
violência contra ambientalistas brasileiros, com assistência jurídica e suporte
emergencial a indígenas – uma resposta ao contexto da COP30. No Brasil, o
Ministério dos Direitos Humanos e a Funai atuam em operações como a de 12 de
novembro, que destruiu garimpos ilegais nas Terras Indígenas Apyterewa e
Kayapó, apreendendo escavadeiras e mercúrio.
Contudo, ativistas como
Marcio Astrini, do Observatório do Clima, alertam: "A impunidade
impulsiona o crime. Sem regularização de territórios – 60% dos quilombolas no
Pará sem títulos, per Incra – e ação conjunta contra ilegalidades, a violência
persiste." O Escazú Agreement, ratificado pelo México mas não pelo Brasil,
poderia fortalecer proteções regionais.
Às vésperas da COP30, o
Pará clama por ações concretas: demarcação de terras, fim da impunidade e
inclusão real de povos tradicionais. Como disse Bepdjo Mekrãgnotire, líder
Kayapó: "Nós lutamos pela floresta para o planeta inteiro." Sem isso,
a conferência global arrisca ser mera fachada para um estado em chamas.

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